TRANSUBSTANCIAÇÃO
Em 2005, eu trabalhava como escrivão de policia no município de Cubatão e naquele domingo havia sido designado para fazer o plantão-sede que ia das 8:00 às 20:00 horas. O dia transcorria normalmente até que chegou a viatura da policia militar tendo como um dos componentes o soldado Bispo, com ele veio o individuo chamado Edvaldo. O miliciano informou que a policia militar estava fazendo incursão pela Vila Natal quando flagraram traficantes em uma viela da favela Caique.
Os bandidos empreenderam fugas pelas vielas e um deles jogou um pacote no barraco do Edvaldo. A policia não consegui deter o bando, mas recuperou o entorpecente chamado cocaína que pesava cerca de 300 gramas. O Edvaldo acompanhou os policiais até a delegacia na condição de testemunha, porém, o delegado Armando Prado Lyra Neto entendeu que o Edvaldo também era partícipe do grupo de traficantes.
O PM Bispo confidenciou-me que o Edvaldo veio no fundo da viatura ajoelhado com a Bíblia na mão e orando. Na delegacia, foi informado que seria preso. Conversei com ele e vi claramente que ele era inocente, resignado, ele falou para mim que não teve o que fazer quando os bandidos jogaram na sua casa a droga durante a fuga, e se fosse a vontade de Deus que Ele passe por aquela prova, Ele não temeria. Deixei-o sozinho na carceragem e vi ele no oculto, ajoelhando-se e orando, Não me pediu ajuda, não ficou desesperado ao saber que iria pegar uma “cana pesada”.
Falei com o delegado Dr. Armando que ele reavaliasse o seu ato decisório, mas ele estava irredutível. Não insisti na minha posição de demovê-lo da sua decisão, mas confesso que fiquei triste. Lavrei o Auto de Prisão em Flagrante até o fim, faltando somente juntar a peça processual chamada Laudo de Constatação Provisório de Entorpecente. O carcereiro de nome Arsênio, que era perito “ad doc” após fazer a mistura química com o reagente, de maneira incrível, a cocaína não reagiu positivamente. Todos os policiais ali presentes, gente com experiência de mais de 20 anos de policia, já havia tocado com a língua, sentido o odor característico e ninguém tinha dúvidas que era cocaína. Contudo o perito Arsênio, pediu desculpas e recusou-se a assinar o laudo. Fato este que nunca vi na policia, nem antes, nem agora, cinco anos depois dos fatos.
O delegado viu-se obrigado a acionar a perícia oficial. O Dr. Bonifácio teve que sair da sua casa para atender o plantão no IML (que naquela época era o orgão da Superintendencia de Policia Técnico-Científica que tinha a competencia para emitir o laudo definitivo). Após cerca de 4 horas desde que os fatos ocorreram, finalmente veio o resultado conclusivo. Não Reagente. Como consequência, o Auto de Flagrante foi nulo de pronto e o acusado posto em liberdade imediatamente. O Edvaldo saiu da carceragem com uma serenidade, cumprimentou a todos e foi embora como se não fosse nada. Nunca vi tanta fé e confiança em Deus como vi naquele inocente.
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Se este caso virasse filme eu indiciaria os seguintes atores:
FILME: TRANSUBSTANCIAÇÃO
SINOPSE
Um jovem cristão morador de uma favela de Cubatão é preso por trafico de entorpecente, um crime que ele não cometeu. Apesar de alguns policiais acreditarem na integridade do Edvaldo, só Deus poderá livrá-lo do precário sistema carcerário brasileiro. Veja o surpreendente desfecho desta história policial.
Este filme é baseado em uma história real, com nomes reais, lugares reais, um filme contemporâneo que nos leva a confiar em Deus e não ter medo das injustiças humanas. Ao mesmo este filme nos leva a refletir que mesmo cheios de boas intenções, podemos julgar o próximo de forma errada por julgar “favelados” como partícipes da criminalidade que permeia as periferias dois grandes centros urbanos.
Elenco:
Lima Duarte: Delegado Dr. Armando Prado
Wagner Moura: Escrivão Valdemir
Antonio Fagundes: Perito “ad doc” Arsênio
Humberto Martins: Perito Bonifácio
Floriano Peixoto: Soldado Bispo
Lázaro Ramos: Edvaldo
Justificativa para a distribuição dos papeis dos atores aos respectivos personagens:
Lima Duarte - já tem um histórico no cinema e na TV de representar personagens fortes de temperamentos e atitudes enérgicas, coisa que o Lima Duarte sabe desempenhar muito bem.
Wagner Moura – No filme Tropa de Elite, este ator mostrou toda a sua capacidade melodramática de representar um papel de um policial que vive profundas crises de identidade e conflitos internos para relacionar suas convicções íntimas com os desafios do seu trabalho policial.
Antonio Fagundes – Na novela “O rei do Gado” e no seriado “Carga Pesada” este ator também soube representar personagens de firmes convicções pessoais tanto na posição de um poderoso fazendeiro como na de um humilde carreteiro. Atuando como um perito “provisório” como Arsênio, que não temeu reagir contra a convicção do delegado e recusou-se a assinar um laudo de constatação de toxicidade. É preciso ter personalidade forte e um agir sem querer ser agradável ao chefe.
Floriano Peixoto – Pode representar com sucesso o policial militar Bispo que com coragem correu atrás de traficantes na favela, e que ao apreender a droga jogada na casa do Edvaldo o conduziu a delegacia. Floriano trabalhou recentemente nas novelas “Poder Paralelo” no papel de Rafael e como o vice-governador no seriado “A Lei e o crime”.
Lázaro Ramos – Ainda esta no imaginário popular a figura do negro como uma pessoa com pouco estudo, baixa renda, morador do subúrbio. O ator Lázaro Ramos pode desempenhar como ninguém este papel, pois viveu na pele tanto pela cor negra como pela condição social em que viveu na Bahia, sua terra natal, as condições difíceis dos pobres nos subúrbios das metrópoles. Lázaro Ramos é um artista ícone da TV, Cinema e Teatro brasileiro, tendo inclusive ganho o prêmio Emmy, que corresponde ao Oscar da TV internacional.
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